ROTA DO CORDEIRO
Notícias
A da cadeia produtiva da ovinocultura e da caprinocultura é estratégica sob a perspectiva do desenvolvimento regional, haja vista o grande número de ocupações e postos de trabalho e renda gerados direta e indiretamente, especialmente para pequenos produtores rurais em regiões de baixa renda em todo o país. Contudo, o aproveitamento pleno do potencial do setor importa em um conjunto integrado de iniciativas estruturantes, públicas e privadas, que justificaram a criação do Projeto Rota do Cordeiro. Estudos desenvolvidos pela Embrapa indicam as precárias condições tecnológicas, os baixos índices de produtividade e a falta de informações de mercado confiáveis na ovinocaprinocultura. A baixa adoção de tecnologia, aliada a escassa organização dos produtores, tem perpetuado a ovinocultura e a caprinocultura como atividades de subsistência, desperdiçando o potencial econômico dessas atividades, cuja contribuição é fundamental para a economia de diversos países, como será visto no diagnóstico apresentado na próxima sessão do livro.
Apesar desse potencial, é forte a incidência do abate e do processamento informal ou clandestino. Apenas uma pequena parcela do consumo – cerca de 3% – passa pelos frigoríficos legalmente instituídos. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, cerca de 75% dos abates oficiais de ovinos ocorrem no Rio Grande do Sul, ainda que a Região Nordeste conte com cerca de 60% do rebanho. O desenvolvimento do setor é comprometido graças a dificuldade de se estabelecer uma ligação mais forte entre produção, processamento e mercado. Malgrado os expressivos rebanhos de ovinos e caprinos existentes, a maioria dos frigoríficos certificados opera com capacidade ociosa, por falta de animais para abate. No segmento de carnes, a demanda insatisfeita é atendida por importações. Já no segmento de couros, a pele de ovinos e caprinos é exportada como wet blue, produto da fase mais poluente do curtimento, e importada com acabamento final.
Conforme informações da CNA, o abate certificado tem caído bruscamente no Brasil, paralelamente ao aumento das importações. A capacidade ociosa dos abatedouros frigoríficos de ovinos e caprinos brasileiros encontra-se na faixa de 80% (dados de 2015).
Como se vê, é necessária uma ação convergente e coordenada ao longo da cadeia produtiva da ovinocaprinocultura, de modo a romper esse círculo vicioso. O diagnóstico consensual do setor é que ações pontuais e fragmentadas não conseguem romper a lógica perversa que perpetua a desorganização desta cadeia produtiva. São necessárias ações desde a capacitação e a organização dos produtores, à provisão de condições materiais – insumos e serviços – para uma oferta padronizada e regular, além do estabelecimento de conexões entre a produção, o abate, o processamento e o consumidor final.
A necessidade da construção desta governança setorial para a ovinocultura brasileira motivou a formulação da Rota do Cordeiro, a partir de um Acordo de Cooperação entre o Ministério da Integração Nacional e a Embrapa Caprinos e Ovinos iniciado em 2012. Com o tempo, o projeto obteve apoio da Arco, CNA, Sebrae e Frente Ovino, além de diversos parceiros organizados em torno da Câmara Setorial de Ovinos e Caprinos do MAPA.
O objetivo geral da Rota do Cordeiro é promover o desenvolvimento territorial e regional por meio do fortalecimento dos APL associados à ovinocultura e à caprinocultura. Busca-se identificar e desenvolver redes de APL e articular o apoio de agências públicas e privadas, em torno de uma agenda convergente e sinérgica na cadeia produtiva e no território (ver figura 3). As ações partem do entendimento e negociação dos atores (partes interessadas) em relação a problemática do setor (local e nacional) levando a construção de um plano de ações coletivas: carteiras de projetos com base em oficinas locais de integração.
Na lógica da verticalização e agregação de valor no APL, é incentivada a formação de sistemas agroindustriais integrados nos polos, onde associações e cooperativas de agricultores familiares são incentivadas a contratualizar o fornecimento a empresas locais (frigoríficos, abatedouros, curtumes), além de desenvolver iniciativas próprias de beneficiamento de base familiar (laticínios, embutidos, artesanato em couro) de alto valor comercial e cultural.
A contrapartida do projeto reside no incentivo à organização social, melhoramento genético do rebanho com base em animais locais, otimização do regime agroalimentar da propriedade, assistência técnica e extensão rural, provisão de financiamento e infraestrutura, entre outros elementos necessários à estruturação do setor.
A Embrapa, parceira técnica da Rota do Cordeiro, recomenda a lógica dos Sistemas Agroalimentares Localizados (SIAL) nos polos onde há produção tradicional, consumo frequente, além de produtos diferenciados, que podem ser reconhecidos e valorizados como tais. Os Polos de Bagé (RS) e Tauá (CE) já estão sendo trabalhados desta forma.
O SIAL estimula o processo de resgate do valor dos produtos, da cultura e do saber fazer dos produtores locais. O estímulo às pequenas indústrias familiares, ao turismo rural, à gastronomia local e às manifestações culturais permite se estabelecer a diferenciação entre regiões.
A partir do entendimento entre MI, Embrapa e Arco, identificou-se 13 (treze) polos prioritários (APLs) para o desenvolvimento de ações de fomento à ovinocultura e caprinocultura (quadro 3). Com a evolução do projeto Rota do Cordeiro, novos polos serão identificados e trabalhados.
A partir das oficinas de planejamento da Rota do Cordeiro, os polos identificados se consolidaram como territórios de referência para a ovinocaprinocultura graças a mobilização e participação dos atores locais e regionais.
Nas oficinas realizadas, as lideranças do setor definiram o nome do polo e sua visão de futuro, além dos municípios da área de abrangência do APL (figura 6).
A partir dessa base formulou-se a carteira de projetos do polo e as tratativas para formação dos seus comitês gestores.
A presente publicação consolida este trabalho, cujos resultados agora estão sendo apresentados às partes interessadas no fortalecimento da ovinocaprinocultura e no desenvolvimento regional brasileiro.